sábado, 19 de setembro de 2009

Chica e Elme Capítulo II : Reflexões a sós


Elme Bastos custou a ver a ficha cair. Quando pensava no programa que fizera ao sair com a sua “peguete” e vizinha, Aspira Chica, valorizava todos os aspectos positivos daquela tarde/noite de domingo: o Prosseco italiano ultra gelado, a improvisação que fizeram para arrumar um balde de gelo que mantivesse a preciosa bebida à temperatura adequada, a sensacional dança indiana que Chica protagonizou, o lenço de seda dela que ele colocou por dentro de sua camisa de gola, a pose de galã que fez deixando-o a cara do Bahuan, a Chica teimando que quem usava lenço na novela era o Radji enfim, muitas lembranças agradáveis para um desfecho mal humorado da Chica.
Elme demorou mas entendeu, finalmente, que poderia ter sido melhor confessar naquele dia, que estava no ULTRAVERMELHO de seu cheque especial.



Chica por outro lado estava puta com ela mesma.
A questão principal era uma excessiva autocrítica por ter caído mais uma vez na conversa mole do Elme. Logo com ele, que não melhorava e volta-e-meia armava no final.
E tome enxurrada de frases feitas:”Homem é tudo igual.”, “Esse Elme é muito babaca, muito autocentrado.”, “Eu devia deixar de ser boba e voltar a sair com fulano que me valoriza.”, “Como mulher é burra!” e vai por aí a fora...

Repetia assim a dialética feminina que as deprime e não as deixa sair do lugar, eu diria.
Acontece que a vida não é reta.
Nas relações, 1 mais 1 é muito mais do que 2 e ela, mulher vivida e descolada, sabia perfeitamente disso. Na época, Chica ainda não chegara aos 30 anos.

Diferentemente do Elme, somente quando a raiva começou a passar, foi que ela deixou que as lembranças de domingo fossem se arrumando em sua cabeça, uma a uma.
Não... ela não tinha a menor idéia da procedência do Prosseco.
Ela sabia que era rosé e que o Elme havia dito que combinaria com ela.
Podia ser mentira, mas ela acolhera o comentário “com um sentimento bom”.
Quem é mulher sabe do que estou falando.
O Elme era muito engraçado, ridículo até, mas fora muito carinhoso na cama, soubera conduzi-la, soubera esperá-la e o sexo fora de fato muito bom, não dava para negar.
Percebeu que fora ela que havia insistido para eles irem ao cinema e também para que fossem jantar, conforme combinado. Lembrou que ele tinha insistido para que ficassem no apê dela, que pedissem uma pizza e certamente aí, ele bancaria.
Não havia dúvida, de puta com ele passou a se sentir culpada!
Sua convicção, tola eu diria, vinha do fato dele ter pago o táxi e o cinema.
Acabou imaginando que ele, por vergonha, não quisesse confessar para ela que não tinha dinheiro para bancar tudo.
Ela sabia que homem tem um monte de dificuldades com isso, mas no dia, na hora, ela se sentiu usada, manipulada e ficou $#@&!!! com ele.

Esse pensamento feminista de que a mulher precisa se dar valor, mais uma vez atrapalhara sua vida, que poderia ter seguido mais leve, pelo menos ... pelo menos naquele encontro com o Elminho.
Foi procurar a foto que tinha do Elme na festa a fantasia onde se divertiram até....
Ela fizera muito sucesso, fantasiada de Rê Bordosa aliás, bebera todas!
Mas o Elme, aliás Radji, aliás Antonio Banderas, aliás punk..., sem comentários!

Chica saíra da trincheira-do-auto-patrulhamento-intelectual-feminista e agora, as boas lembranças do encontro estavam aflorando em sua cabeça, sem controle.

Aureliano Mailer é um observador da alma humana e o Elme, seu amigo, contou-lhe parte dessa estória...

2 comentários:

Letícia disse...

Ah, Aureliano, o distanciamento temporal costuma mesmo fazer isso com a mente feminina. Às vezes, até o pior canalha se torna um príncipe encantado. Vai entender...
Beijos.

Layla Tom disse...

Que o Elme é uma roubada já sabemos, mas mulher pode fazer o que quiser.
Esse papo de se dar valor é de um machismo!!! A Chica pode achar o Elme um palhaço e querer ter uma ótima noite, e daí?
Tomara que seja só essa noite e nada mais...