sexta-feira, 26 de junho de 2009

Associated Press: Michael Jackson dies at 50

michael jackson fenômeno do pop mundial morreu midiaticamente na tarde de ontem de parada cardíaca enquanto brasileiros voluntaria e involuntariamente desocupados ainda comemoravam a vitória suada da seleção brasileira sobre a áfrica do sul gol de daniel alves de bola parada aos quarenta e dois minutos do segundo tempo colocou o brasil na final com os estados unidos no próximo domingo às quinze horas e trinta minutos horário de brasília mobilizada com a crise no senado cujos atos secretos favorecem parentes amigos e aliados do presidente da casa senador josé sarney não compareceu à sessão de ontem pedro simon pediu em tom dramático seu afastamento quando morreu midiaticamente michael jackson fenômeno do pop mundial de parada cardíaca enquanto daniel alves de bola parada colocou a crise no senado parentes amigos aliados da casa em tom dramático michael jackson pediu seu afastamento

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Notícia do Dia

"Capitão!!!! Michael Jackson pediu pra sair!"
"Ôôôô 01..., tá querendo me fudê?"
"E os ingressos que nós compramos para assistir juntinhos o show, em Londres?"
"Fala baixo, meu capitão..."

Cap. Nascimento e 01, amigos do blog, ainda descontrolados, depuseram.

Pensamento do Dia

Maicon Jécson é o caralho!
Meu nome é Zé Pequeno!

Zé Pequeno, amigo do blog, escreveu.

Lixo À Beira Da Estrada - Cap 5

Decidi impressionar minha futura cliente.
Era um risco mas, se acertasse, facilitaria as coisas para mim.
A VÍTIMA É SEMPRE ATRAÍDA PELO OLHAR DA COBRA!, lembrei.
Muitos golpistas, com quem convivi, já tinham falado a respeito.

"Senhora, já percebi que está decidida a muitas coisas.”
“Me corrija se eu estiver errado, mas se houver provas de adultério contra seu marido, a senhora pretende o divórcio, não é isso?”
“Além do poder de seu marido, sua sogra é mais poderosa do que ele e a senhora ainda não sabe como atingi-la, estou certo?”

Ela estremeceu.

“Wadson, como pode ser assim tão frio e observador. Por acaso, o senhor sabe quem eu sou?”.
Observei que, pela primeira vez, ela tinha falado meu nome.
“Não, senhora.”, disse-lhe.
“Tudo o que acabo de lhe falar, foi possível entender do muito pouco que ouvi.”
“A senhora tem um problema muito sério, muito delicado, que envolve sentimentos muito íntimos e reservados, mas que também envolve dinheiro. E...”, fiz uma pausa, “... pela sua aparência e elegância, o dinheiro envolvido não é desprezível.”

Me senti dominando a situação mas, enquanto eu falava, ela havia se recomposto. Por excesso de confiança, eu tinha baixado a guarda e iria pagar por isso.

“Estou impressionada com o que o senhor acaba de me falar.”

Acusei o golpe, mas não me fiz de rogado.
“É que eu conheço um pouco da natureza humana.”
Prossegui, “essa é uma frase de Balzac, foi apenas uma citação, não me queira mal.”

“Claro que não”, disse-me.
“Wadson, eu percebi sua preocupação em aparentar mais do que é. O cinzeiro de cristal baccarat, a citação de Balzac, as unhas feitas e o curso de inglês, em nível tão elementar, formam um conjunto harmonioso para qualquer advogado canalha.”
“Aliás, citando Nelson Rodrigues, TODO CANALHA É MAGRO!”
“Coincidentemente percebi, também é o seu caso.”

Ela conseguira me jogar nas cordas.
Poderia acabar comigo, virando as costas e indo embora.
Se ficasse, seria por causa de seus óbvios interesses, mas não me respeitaria e dificilmente eu estaria advogando para ela quando, por ventura, pusesse a mão no dinheiro.

Busquei uma saída. Uma frase que invertesse aquela situação desfavorável. Se aquela contenda fosse num ringue, naquele momento, quaisquer três juízes que não estivessem comprados de antemão dariam vitória à loura, por unanimidade.

Pensei num gancho de direita que poderia derrubá-la, fazendo com que eu ganhasse a luta.
Ou num golpe certeiro no fígado, fazendo-a sentir dor e, a partir daí, temendo outros golpes mais duros, eu conseguiria levar a luta até o final.
Se isso acontecesse ela me respeitaria. Face ao estrago que já tinha me feito, eu a respeitaria também.
Optei pela segunda tática e contra ataquei, ainda nas cordas.
Intencionalmente tratei-lhe pela terceira pessoa.

“Eu sei que você está sendo humilhada!”, conseguindo que ela recuasse.
“Sua bolsa Louis Vuitton está com o couro soltando na parte inferior”, acertando-lhe o fígado.
“Seus óculos Gucci já saíram de linha há pelo menos 5 anos!”, levando-a para o meio do ringue.
“Se quiser, eu posso ajudá-la, mas você vai começar dizendo o seu nome!” , parando de fustigá-la.

Para a minha surpresa, ela foi além.
“Meu nome é Maria Holanda Swanson. Swanson é da família do meu marido.”
“Mas meu nome de registro e verdadeiro é Marialva Santos”, completou.

Soou o gongo, a luta terminara.
Empate!

Entendi que seria a melhor ocasião para oferecer-lhe um drink.
“Olha", disse-lhe, "no frigobar tenho refrigerante, água mineral, soda, gelo e vodca importada. Tenho tambem uísque escocês e “John” Daniels. Aceita alguma coisa aqui ou aceita um convite para um drink, num bar próximo daqui?”
“Acho que um bar próximo, seria muito bom.”
“Posso usar seu banheiro?”
“Claro, sem problema.”

Aproveitei para examiná-la enquanto se afastava. O salto muito alto tirou-lhe um dos adjetivos que lhe dera, alta.
Os peitos com silicone, os lábios grossos demais e o quadris largos indicavam que não era loura.
Nem fudendo!

Abri a gaveta de minha escrivaninha, peguei o espelho redondo: de um lado normal, do outro aumento, para espremer meus cravos.
Minha aparência, meu cartão de visita, sempre repito.
Ajeitei o cabelo rapidamente, joguei na boca duas “Valdas” e fui fechar a janela, enquanto a aguardava.

Já havia escurecido.
Descemos, escolhemos o bar e entramos.

Aureliano Mailer escreveu.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Lixo À Beira Da Estrada - Cap 4

Naquele fim de semana, depois do encontro no trailer com a cartomante e sua amiga, minha cabeça não parou. E continuou me atormentando por toda a noite, até que comecei a lembrar-me do meu passado.

Fui um aluno razoável na escola de 1º. grau em que estudava.
Minha mãe era muito severa comigo e com minha irmã.
Como eu era muito magro e franzino as merendeiras da escola passaram a cuidar de mim, a deixar que eu levasse sobras pra casa e a me fazer agrados. Eu retribuía com um sorriso que funcionava.
“Olha Maria, que guri estropiado!” e me abraçavam com fartura.
Como eu era pequeno, muitas vezes durante os abraços, eu me via com o nariz e as órbitas dos olhos enfiadas no meio daquela peitança, coberta pela blusa suada delas.
Com as professoras não era diferente e em troca da atenção, fazia os deveres e colaborava com elas.
Ganhava lápis, caneta BIC e, às vezes, um beijo com marca de batom.

Minha mãe era muito franzina e não se pintava nunca. Usava saias compridas, frequentava uma igreja batista e me obrigava a ir. Diziam que eu era parecido com ela.

Portanto, meus sonhos eróticos ficavam com as mulheres da escola. Tive muitos sonhos em que eu acordava suado, sufocado com os peitos da merendeira mais gorda ou esmagado pela professora da bunda grande. Na época, não sabia o que fazer com o assunto e minha irmã, 4 anos mais velha. Nunca se propôs a me ensinar nada a respeito.

Ser abraçado daquela maneira pelas mulheres, eu nunca esqueci.

Depois dos 9 anos comecei a me soltar, a ficar até mais tarde na rua, a viver com qualquer moleque do meu bairro. Depois dos 13 anos comecei a crescer, a querer bulinar as amigas de minha irmã, a experimentar todas as coisas possíveis para dar prazer à minha mão e ao meu pau.

Até ir viver com a coroa, a minha vida sexual era igual a de todo mundo do meu bairro em São Gonçalo. Tirar sarro com as minas do bairro, transar de vez em quando com a Laís, que era magrinha, ossuda, mas era a única que dava pros meus amigos e pra mim. Ficar sonhando em sair com as popozudas, mesmo sabendo que elas só estavam afim de quem lhes pudesse bancar algum, um papelote, um rolé de moto ou uma blusa de shopping, sei lá.

Quando chegou a época do alistamento compareci com falta de peso e fui recusado sob a alegação de excesso de tropa. Minha mãe ficou desolada, sem saber o que fazer comigo. Pedi-lhe mais uma vez para conhecer meu pai e ela disse-me que era para eu esquecê-lo, que ele era muito rico e ele não ia querer saber de mim.
Conclui o 2º. Grau tentando ainda agradá-la.
Porém, na semana antes do Ano Novo, conheci a coroa e passei com ela o Réveillon, vendo os fogos do Aterro do Flamengo.

Enquanto isso, minha irmã tinha virado popozuda com tudo o que isso representava na periferia.

Minha coroa era estribada, nortista, dente de ouro na frente, celular na cintura e perfume barato no pescoço. Ela era rude, tinha muito mais dinheiro do que qualquer pessoa com quem eu tivesse convivido até então. Dava um duro danado e me ensinou a correr atrás, que nem ela, para poder usufruir daquilo tudo. Ajudei-a no que pude, arranjei mais fregueses, conseguia no papo diminuir a propina pra fiscalização e com os PM’s que nos davam cobertura fiz amizade que nos custava muito pouco. A coroa sabia reconhecer o quanto lhe ajudara na responsabilidade e no coração.
À noite, quando se deitava comigo, era carinhosa. Gozava com muito esforço, mas, quando conseguia, se ajeitava toda a meu lado, seu corpo amolecia e me chamava de Zé, meu Zezinho, Zeca e enfiava a língua no meu ouvido.

Várias vezes tentei corrigi-la dizendo que meu nome era Wadson, mas com o tempo me acostumei. Sem dúvida ela não me lembrava as merendeiras com quem eu sonhara.

Depois de muito tempo, contei-lhe a história do meu pai, que era rico e que eu não conhecia. Ela não pareceu se surpreender. Tempos depois me falou da faculdade de direito, que eu deveria me inscrever e cursar, para somente então, já formado, me apresentar diante de meu pai.

Assim que pude, fui a São Gonçalo visitar a minha mãe, contar-lhe a novidade que a coroa ia me proporcionar. Ela ficou muito feliz por mim, mas, ainda assim, pareceu-me triste como nunca. Tentei arrancar-lhe o que era sem sucesso. Na saída, encontrei nossa vizinha que acabou me dizendo que minha irmã tinha saído de casa para morar com Nilson, colega meu de rua que agora era membro importante do “movimento”.

Deixei um dinheiro com a minha mãe, disse-lhe que era dinheiro honesto, que trabalhava no trailer com a coroa e que ia levá-la para bem longe dali assim que eu me formasse. Pedi-lhe somente para não dar parte do dinheiro para a igreja.

Voltei para o centro do Rio, no ônibus São Gonçalo - Passeio. Embarquei no ponto inicial e ia saltar no ponto final. De lá, chegaria caminhando até a casa da coroa, onde eu morava. Um único ônibus ligando dois mundos tão diferentes.

Amanhecia quando finalmente consegui dormir. Sonhei que estava com a cara enfiada nos peitos da cartomante gostosa, só que agora eu já sabia o que fazer depois.

Aureliano Mailer escreveu.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Lixo À Beira Da Estrada - Cap 3

"A primeira coisa que o senhor precisa saber, é que amo o meu marido!" – disse-me a loura.
Evitei manifestar a impressão que a frase trouxe ao ambiente. Passei os dedos sobre o bigode. Era a preparação de um blefe.
Do outro lado da escrivaninha, ela me olhava buscando algum sinal.
Pedi-lhe que prosseguisse.
"Ele está ameaçando me deixar ... a mim e a nosso filho! "
"Como assim?", perguntei tentando incentivá-la.
Ela não caiu na isca.
"Ele diz que tem vergonha de mim! Eu constantemente me sinto humilhada! E nós nos dávamos tão bem..."
"E a traição que a senhora mencionou?", sabendo que ela acharia que eu estava me convencendo de seu relato.
"Ele...não tem me procurado, à noite."
Resolvi testá-la.
"Mas senhora, quem sabe uma terapia de casal... "
A resposta foi ríspida.
"Porque o senhor acha que eu entraria nesse prédio velho, ficaria sentada nesse escritório poeirento, na frente de um ... Desculpe-me, não preciso de terapia de casal, o senhor já deve saber que eu não vim aqui para isso."
Relaxei.
Ela se desarmara.

"Posso fumar? "
"Fique a vontade. "
Peguei o isqueiro de mesa, peça elegante e incomum que veio no pacote do aluguel, assim como quase tudo dali.
Acendi-lhe o cigarro.
Levantei-me, caminhei até a estante e trouxe-lhe o cinzeiro de cristal baccarat.
Percebi que estava sendo avaliado, conheço as mulheres e elas me deixam tenso.
Deixei que me visse de lado e de costas.
Sou alto, corro 4 a 5 vezes por semana, evito beber chopp em demasia.
Minha aparência, meu cartão de visita, sempre repito.

Perguntei se ela se incomodaria de eu fumar.
Fingindo indiferença, respondeu que não.
Fui até a janela para abri-la um pouco, afastei a cortina para o ar fresco, da tarde de inverno, entrar.
Sentei-me de volta, dei uma longa tragada.
O raio de sol cruzava o escritório e nele a poeira em suspensão subia e descia insinuante.
Olhei para a loura que estava menos tensa.
A bolsa já tinha sido colocada na cadeira ao lado.

"Engraçado, disse ela, há anos não fumo na frente do meu marido..."

Aureliano Mailer, escreveu.

Lixo à beira da estrada – Cap. 2

Sou mestiço social.

Minha mãe era da periferia, sempre foi pobre, morreu pobre. Era mãe solteira de minha irmã e de mim.
Meu pai morava em Ipanema, era de família rica, nasceu rico, morreu rico.

Minha mãe trabalhava na casa dos pais dele. Meu pai, quando engravidou minha mãe era casado, tinha 2 filhas pequenas. Minha mãe contava que meu pai não morava lá. Só ia à casa dos pais dele, nos fins de semana. Ainda assim, a engravidou. Naturalmente, não apoiou minha mãe quando a barriga dela cresceu demais. Deixou que fosse humilhada e expulsa de lá. E continuou casado, eu acho.

Com o tempo descobri que nessa miscigenação social ninguém nasce mulato. Ou nasce pobre ou nasce rico.

Eu fiquei em Itaúna, São Gonçalo.

Em outras palavras, eu fiquei no lado social da minha mãe.

Odeio ser chamado de mulato. Mulato é o caralho!

Ainda assim, tentei escapar.

Quando já era adolescente eu frequentava a Praia do Flamengo. Foi por lá que eu conheci uma coroa. Ela tinha um trailer com freguesia fiel, me deu boa vida e fui me ajeitando com ela. Com o tempo, me incentivou a fazer o vestibular, pagou uma faculdade de direito perto do Campo de Santana e em troca, lhe dei minha juventude. Nos divertíamos na rua quando casais de caretas nos olhavam com desaprovação. Eu a chamava de tia, tascava-lhe um beijão na boca e caíamos na gargalhada. E graças a ela, descobri meu destino.

Em uma tarde, de meio de semana, levou-me a um apê de sala e quarto de uma cartomante na Rua do Matoso, perto da Praça da Bandeira, a quem pagou para que fizesse meu mapa astral. Uma semana depois, voltei lá sozinho, depois de sair da faculdade. Nesse segundo encontro, descobri que ela não era cartomante, que meu ascendente era em Sagitário, que a mulher era bem mais gostosa que a minha coroa e que minha lua era em Aquário. Os odores de incenso e o perfume forte que ela tinha, eu nunca tinha sentido. Ela disse que minha vida ia mudar em breve e que eu era um sonhador. Passou a mão no meu rosto de um jeito estranho, disse-me que eu tinha cara de sonso. Ela tinha uma mão macia, grande e quente.

Disse-lhe que precisava voltar para o trailer, pois era sexta-feira e o fim de semana iam ser de trabalho. Perguntou-me onde ficava o trailer. Expliquei. Sorriu dizendo que não costumava freqüentar a praia do Flamengo, mas que talvez passasse por lá, só pra me ver. Fiquei em pé, junto à porta de saida, paguei-lhe o combinado e saí desgovernado.

Peguei o ônibus errado, cheguei tarde ao trailer, com a cabeça latejando e acreditando em cada palavra que ela tinha me falado. Minha vida ia mudar.

Passei a noite trabalhando e falando pouco, a coroa notou, quis saber o que era, disse-lhe que não era nada. Quando o movimento acabou recolhemos tudo, fechamos o trailer e fomos para casa dela, que ficava a uns 2 kms dali, perto dos Arcos. Como percebi a inquietação da coroa, para não dar bandeira, me aconcheguei a seu lado e transamos com sofreguidão. Passado um tempo, ela adormeceu e eu não.

Saí sem barulho do quarto e fui fumar no quintal. Passei a noite pensando em meu pai. E se ele me reconheceria como filho. Dali a 1 ano eu iria me formar e ele me arranjaria um emprego bom. Fumei mais um cigarro e fui me deitar.

O fim de semana seguiu normalmente, o gelo, a cerveja, os clientes antigos e novos, a preocupação com o calote, o “agrado” à fiscalização municipal, o cheiro de gordura, a água fria do mar, o esgoto a céu aberto, tudo tão perto de nós.

Em meio à muvuca de domingo, de repente senti a mão macia, grande e quente segurar meu braço. Virei-me, sabendo quem era. O sorriso dela estava ainda mais largo e generoso. Sorrindo, pediu-me uma cerveja com dois copos apontando para a mesa 3. Estava com uma amiga tão ou mais gostosa do que ela. Fui servi-las e percebi que falavam de mim. Disse-me para que eu passasse na casa dela na terça-feira seguinte, depois das 13:00. Jogaria Búzios para mim.

Perguntou-me quanto era. Pagou a cerveja na hora e me olhou de cima a baixo.
Gelei. Voltei para o trailer, conversei com a minha coroa qualquer coisa sem importância. Meu pau ficou duro, terrivelmente. Fui para trás do trailer, mexi no gelo, tentei me acalmar e assim que pude, voltei. Disfarçando, olhei em direção a mesa 3. Estava vazia com a cerveja ainda nos copos.

Fui até lá recolher os copos e a garrafa, buscando enxergá-las mesmo que a distância. Não as vi. Bebi a cerveja que restava no copo, enquanto as procurava. Nunca faço isso, mas aquela situação tinha me tirado do sério. Fui para trás do trailer. Enchi seu copo com o que restava na garrafa. Escolhi colocar minha boca sobre a marca de batom que ela havia deixado. Ainda alterado, fiz o mesmo com o copo da amiga.
Ela estava certa, minha vida ia mudar.

Aureliano Mailer escreveu.

sábado, 13 de junho de 2009

Lixo à beira da estrada - Cap. 1

A loura alta entrou no meu escritório sem bater.
Estava decidida, sabia quem eu era, da minha reputação.
Nada mais sabia sobre mim, descobri isso pouco depois.
Tentei interromper bruscamente o curso de inglês que faço pela internet. Não fui rápido como queria e temi que ela percebesse o que era. Percebi que ouviu parte do diálogo.
Gelei, porque precisava de novos clientes com urgência.
Me recompus, convidei-a a sentar e perguntei-lhe o que desejava.
Ela não respondeu. Estava olhando o ambiente. O pé direito alto, a cortina de tecido pesado até o chão, a grande escrivaninha de madeira escura, o tampo de vidro trincado, o tapete imitando persa, empoeirado.
Tirou os óculos escuros.
Vi seus olhos castanhos, o excesso de maquiagem, a roupa de boa qualidade, as jóias douradas, gargantilha, pulseira, aliança na mão esquerda.
Pensei que o senhor fosse mais jovem, disse.
"E porque deveria ser? ", respondi.
"Nada, preciso de respostas rápidas, é isso. "
"Qual é o seu problema? "
"Preciso provar que meu marido me trai... "
"Senhora, não sou detetive, posso indicar-lhe quem trabalha nesse ramo."
"Meu marido é um homem poderoso, tem muitas posses, a mãe dele me odeia e eu consegui casar com ele porque engravidei."
Perguntei-lhe quem tinha me indicado.
Novamente, evitou responder.
Há cerca de 6 meses atrás, tinha me tornado conhecido por ter defendido a viúva acusada de matar o marido ganhador da mega-sena, aquele de Itaboraí que andava de cadeira de rodas.
Aproveitei a notoriedade do caso, aos poucos fui me afastando da curriola de informantes com quem trabalhava e achei esse escritório de advocacia fechado há quase 10 anos. Consegui alugá-lo perguntando aos porteiros desses inúmeros prédios antigos no centro da cidade, se sabiam de alguma sala disponível.
Foi fácil.
Com a bolada que recebi da viúva, comprei um Vectra semi-novo, tirei o anel de formatura da mão do agiota e mudei todo o meu guarda roupa. Corto regularmente meu cabelo num salão do centro, mantenho o bigode aparado e faço as mãos toda a semana, valoriza o anel de advogado. Minha aparência, meu cartão de visita, sempre repito.
Aluguei um apê na Gloria, mal mobiliado e encardido como o meu antigo terno marron.
De lá para cá, vários trambiqueiros procuraram meus préstimos profissionais, mas decidido a mudar de vida, só me dispus a pegar causas onde o cliente pudesse pagar parte de meus honorários antecipadamente.
Ajudei a uma moça bem jovem a se livrar de uma extorsão do proprietário do imóvel em que ela morava. O pretenso senhorio era procurador de uma viúva, não passava recibo dos aluguéis recebidos e foi fácil reverter a situação, ameaçá-lo e receber uma propina adicional em troca da minha discrição. A moça pagou-me de outro modo, era profissional e nosso acordo funcionou por algum tempo.
Meu escritório era velho e não me ajudava e assim, caminhava a passos acelerados para os braços amargos de meu passado, do outro lado da Baía de Guanabara.
Na última semana, a viúva tinha voltado aos noticiários pois acabara de sair do presídio feminino. Consegui-lhe uma condicional. Só eu sabia o quanto ela havia gasto para se livrar da prisão. Quase tudo segundo ela afirmava, do muito que tinha se apropriado do marido morto. Seu antigo amante, este sim continuava preso.
A loura alta olhava para mim em silêncio.
Imaginei que essa poderia ser a razão para ela estar ali.
Percebi, que estava ali uma chance de adiar meu retorno a Itaboraí.
Concentrei-me nela, contendo minhas suspeitas.
"Bem, senhora, pela sua atitude e com a minha experiência, posso ouvi-la um pouco mais. A propósito, não sou velho como aparento, sou muito vivido", disse-lhe com firmeza.
"A mim não importa sua idade. Tenho pressa. Posso iniciar o meu relato?"
Seus lábios estavam lívidos e ainda segurava com firmeza a bolsa Louis Vuitton.

Aureliano Mailer, escreveu.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

AMEAÇA

Primeiramente, parabéns pela nossa iniciativa deste tar de Brog.
Segundamente, saio em defesa de meu cumpanheiro de breves jornadas, o Gaúcho, pois ao que sei, foi informado muito recentemente que já estreamos esta nossa nova mídia de comunicação e ainda não nos brindou com sua estréia. Portanto, são demasiadas injustas as críticas que JÁ lhe foram atribuídas. Sacanagem! O cara ainda tá aquecendo pra entrar em campo e já está na berlinda. Mas, como diria o Ancelmo: não é nada, não é nada, não é nada.
Acabei ontem de ler Leite Derramado. Não sei porque ainda insisto. O cara é um enrrolão, um fanfarão. Ele me lembra aqueles centroavantes que surgem no futebol brasileiro e fazem 20 gols numa primeira temporada. No fim desta mesma temporada fecham um contrato de 4 ou 6 anos com algum clube e vivem da imagem do passado, colhendo frutos e longe da (discutível) produtividade pretérita. Acho que o Chico está gagá (ou acha que sãos leitores estão). Sob o pretexto de impor algum estilo ao texto, faz vais e vens na história, simulando lapsos de memória do protagonista. Pura enrroleba. O livro poderia ser resumido em 1\3 das páginas. Um desastre!
Todavia, há um momento de felicidade em tal gagazisse. Ao menos parará (ao que tudo indica) de cercar senhoras casadas e desavisadas pelas areias do Leblon. Quiçá deixará de destruir lares, ferindo a Carta Magna brasileira, que tem em seu ventre a proteção à família, instituição máxima de nossa nação. Ele devia ter ficado no exílio, pois há muito é uma ameaça a soberania nacional, uma vez que vai repetidamente de encontro aos princípios e costumes basilares de nosso país.
Ass.: BOM (n) itão!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carta/comentário de leitora entediada

Queridos leitoras e leitores,
Recebi essa longa carta/comentário que resolvi compartilhar com voces.
Para responder ao questionamento da nossa auto entitulada "LEITORA ENTEDIADA" e orientar aos nossos leitores de outros estados, o nome do biscoito de polvilho que comemos na praia é GLOBO.
E a praia não é a do Leblon, pois lá, a freqüência, como todos sabem, não é boa.
Por fim, não tive a intenção de aconselhar ninguém, isso eu deixo com as loucas do COMANDO ROSA,.
Volto a frisar, que apenas anotei a conversa que ouvi de homens inteligentes e sacadores.
Peço porém, querida leitora, a especificação completa do tal celular, pois acho que essa tecnologia toda tem mil utilidades, não é mesmo?

Segue a carta.

"Querido Aureliano,

Não sei se posso chamá-lo assim após nosso 2º. encontro.
Queria lhe dizer que atribuo ao destino, o que aconteceu.
Pesquisava no Google assuntos de meu interesse (que não vem ao caso comentar), quando por acaso cheguei a esse blog.
Comecei a lê-lo como quem folheia um catálogo de ofertas da CASA & VIDEO, sem interesse em nenhum produto específico.
Achei que era tudo brincadeira que nem a música do Peninha, que o Caetano gravou há uns 5 anos atrás, mas ao ler na ABERTURA que esse blog “vinha para preencher uma lacuna”, alguma ficha caiu e parece que tudo foi crescendo, crescendo dentro de mim.
Imediatamente, olhei para esse meu vazio interior, esse frio que não deixa o meu peito e que aumenta nessas tardes cinzentas aqui de São Paulo.
Ainda não sei dizer, nem como nem porque, mas senti um sopro de calor naquela fria tarde de domingo.
A princípio, achei que delirava com a refeição trash que havia feito: um pote de mashmellow (?) com meia garrafa de vinho Malbec deixado para trás na geladeira.
Inebriada, enjoada e entediada, adormeci.
Acordei à noitinha com o telefone tocando.
Podia ser o carinha que ficou de sair comigo pela manhã para pedalarmos de bike na Cidade Universitária, com uma desculpa esfarrapada querendo me chamar para comer umas pizza na casa dele.
Dependendo da desculpa, eu toparia, eu me conheço.
Mas, na era.
Era telemarketing oferecendo promoção de celular para o dia dos Namorados.
Com tédio moderado, falei que já tinha operadora e que estava comprometida com uma carência de 36 meses por causa do modelo de celular que tinha escolhido (eu me sinto poderosa quando tiro ele da bolsa e coloco em cima da mesa de um bar ou quando desfruto dele no vibracall).
Depois eu recomendo o modelo porque eu sei que a mulherada morre de inveja!
Mas o carinha insistiu, perguntando se eu não queria dar de presente para o meu namorado.
Mandei-lhe à merda e ele entendeu o recado, dizendo que a operadora agradece ...
Sentei no sofá ainda com a capa amassada e com farelo de biscoito de polvilho que parece muito com aquele que vocês comem na praia. Qual é a marca mesmo?
Liguei a TV, fui arrastando meu fim de semana de bosta até que lembrei do FALO EXPLÍCITO e da pesquisa que fazia.
Voltei para relê-lo com um ânimo igual ao que se tem para ver o Fantástico.
Mas aí, li o segundo artigo, que falava mal do Chico e sacaneava as mulheres que ficam falando que ele é símbolo sexual delas.
Bobeira sua Aureliano!
Chico está acima do bem e do mal no nosso imaginário.
Ele embala a nossa fantasia há muitos anos e eu acho que não se deve falar mal de ex-companheiro que nunca nos deixou na mão em nossos sonhos eróticos.
Mas de novo, você tocou num ponto importante, a nível de compreensão de mim mesma.
Falar bem do Chico é que nem andar em esteira de academia, a gente não sai do lugar.
Esse conselho amigo, nesse nosso segundo encontro, pode mudar a minha vida.
OBRIGADA DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO!
Ass: Leitora Entediada

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um recado para os comentários sobre o texto de Aureliano Mailer

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas,
Helenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas, não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

C.B.

sábado, 6 de junho de 2009

Golpe baixo, o cara joga sujo!

Estávamos entretidos no bar: eu e meus pensamentos.
De repente, percebi ao lado uma animada conversa, tão saborosa quanto inesperada.
2 amigos falavam sobre um filme que um deles tinha visto e sobre tudo o mais em torno disso.
Quando soube de qual filme falavam e percebi o teor da conversa, pedi licença às divagações e anotei o que pude.
Pelo que percebi os caras eram inteligentes, cultos o suficiente para falar de assuntos tão diversos e eram casados. Tinham vários amigos em comum. Vou identificá-los por iniciais fictícias por que não quero queimar o filme deles, apesar deles próprios terem queimado o filme de um conhecido, morador de um bairro próximo ao bar.
Quanto a mim, quero que compreendam que apenas transcrevo o que vi e ouvi.
O máximo que me permiti, no caso em questão, foi o de omitir alguns palavrões e algumas palavras pejorativas que, aqui nesse blog, tirariam a força da conclusão a que os caras chegaram.

AC - E aí, RP, foi assistir ao novo filme do Walter Carvalho?
RP – Não, fui assistir ao filme do Chico Buarque...
AC – Foi por falta de programa, foi porque leu o livro ou foi para agradar à RV?
RP – Pode marcar as 3 opções.
AC – Caraca (N.T. - amenizando o diálogo) e aí?
RP – Fui, mas fui rebelde!
AC – Como assim?
RP – Você sabe a minha opinião sobre o Chico. Mito, unanimidade feminina, olhos azuis, a mesmice de sempre. Uma chatice! (N.T. - amenizando o diálogo)
AC – Concordo, @#$¨&*% ! (N.T. - amenizando o diálogo, de novo) A mulherada adora ficar nessa trincheira-afirmativa-pseudo-sexual. Falar bem desse cara é que nem andar em esteira, elas não saem do lugar!
RP – Bingo!
AC - Mas e a rebeldia?
RP – Bem, o SM me contou que o próprio Chico fazia uma ponta no filme. Antes que prosseguisse com os comentários que caberiam, a mulher dele sem ser convidada opinou: E ESTAVA LINDO! Assimilei o comentário e contra-ataquei: Como é que é? Ele aparece no filme? Ridículo!
AC – Sim e aí ? (já com alguma impaciência e também irritado)
RP – E aí? E aí que eu fui assistir marcando posição: Falei com a RV. Se o Chico aparecer, se houver suspiros na platéia, vou vaiar!
AC – Mas eu soube que a mulherada se assusta, pois em uma cena num bar bem escuro, um “bebum” aborda o protagonista principal. A cena é longa e a mulherada num frisson pela expectativa da tal aparição acaba descobrindo que o “bebum” é muito velho. O anticlímax é tal que abre espaço para gaiato fazer graça! “CARACA, COMO O CHICO ESTÁ VELHO!”
RP – Na sessão que eu estava, aconteceu! Todos riram, até as mulheres, ... de nervoso!
AC – E aí?
RP – Bem, quando o Chico finalmente aparece, eu vaiei. A BP gritou: LINDO! ... e a cena... bem a cena era uma bosta!
AC – Mas e a cena final, que dizem que é a maior apelação!
RP- Pois é, o filme termina com a mocinha na cama pedindo ao protagonista principal para ler um trecho de seu próprio livro. E ela declama (N.T. – falando com toda a ironia): “ O texto ouvido na voz do autor ... é mais gostoso”
AC – Putz, brincadeira! O cara joga sujo! rsrsrsrsrsrs...

ABERTURA

Caras leitoras, as nossas primeiras palavras são para vocês que são maravilhosas, surpreendentes, imprevisíveis e inteligentes.
A abertura desse blog começa com uma frase, uma proposta antimachista e antifeminista: PAZ & HUMOR.
Vocês sabem que os homens são mais previsíveis.
Ao agirem assim, pasmem, atendem às expectativas que vem desde o berço: dos pais, dos avós, de outros homens e das mulheres que citei, por favor não neguem!
Eles costumam circular melhor em terreno firme e a estrada machista, por séculos lhes proporcionou uma referência existencial de peso.
Há homens porém que, estimulados, saíram por aí.
Ficaram bem humorados, mostraram a inteligência, surpreenderam.
Ficaram muito mais interessantes e foram cobrados!
Primeiro, pelos outros homens mais inseguros ou mais machistas, desculpem a redundância.
Depois, pelas mulheres mais interessantes, que querem um cara sensível e que compreenda parte da insegurança delas.
Que abra a porta do carro para ela entrar e que não se incomode dela tomar a iniciativa. Que seja super legal, mas que seja macho paca.
Vá entender as mulheres!
FALO EXPLÍCITO vem cobrir essa lacuna.
Afirmativo, vem mostrar que nossos colaboradores são maravilhosos, surpreendentes e inteligentes.
Agora, se também são imprevisíveis, só o tempo dirá!