quarta-feira, 24 de junho de 2009

Lixo À Beira Da Estrada - Cap 4

Naquele fim de semana, depois do encontro no trailer com a cartomante e sua amiga, minha cabeça não parou. E continuou me atormentando por toda a noite, até que comecei a lembrar-me do meu passado.

Fui um aluno razoável na escola de 1º. grau em que estudava.
Minha mãe era muito severa comigo e com minha irmã.
Como eu era muito magro e franzino as merendeiras da escola passaram a cuidar de mim, a deixar que eu levasse sobras pra casa e a me fazer agrados. Eu retribuía com um sorriso que funcionava.
“Olha Maria, que guri estropiado!” e me abraçavam com fartura.
Como eu era pequeno, muitas vezes durante os abraços, eu me via com o nariz e as órbitas dos olhos enfiadas no meio daquela peitança, coberta pela blusa suada delas.
Com as professoras não era diferente e em troca da atenção, fazia os deveres e colaborava com elas.
Ganhava lápis, caneta BIC e, às vezes, um beijo com marca de batom.

Minha mãe era muito franzina e não se pintava nunca. Usava saias compridas, frequentava uma igreja batista e me obrigava a ir. Diziam que eu era parecido com ela.

Portanto, meus sonhos eróticos ficavam com as mulheres da escola. Tive muitos sonhos em que eu acordava suado, sufocado com os peitos da merendeira mais gorda ou esmagado pela professora da bunda grande. Na época, não sabia o que fazer com o assunto e minha irmã, 4 anos mais velha. Nunca se propôs a me ensinar nada a respeito.

Ser abraçado daquela maneira pelas mulheres, eu nunca esqueci.

Depois dos 9 anos comecei a me soltar, a ficar até mais tarde na rua, a viver com qualquer moleque do meu bairro. Depois dos 13 anos comecei a crescer, a querer bulinar as amigas de minha irmã, a experimentar todas as coisas possíveis para dar prazer à minha mão e ao meu pau.

Até ir viver com a coroa, a minha vida sexual era igual a de todo mundo do meu bairro em São Gonçalo. Tirar sarro com as minas do bairro, transar de vez em quando com a Laís, que era magrinha, ossuda, mas era a única que dava pros meus amigos e pra mim. Ficar sonhando em sair com as popozudas, mesmo sabendo que elas só estavam afim de quem lhes pudesse bancar algum, um papelote, um rolé de moto ou uma blusa de shopping, sei lá.

Quando chegou a época do alistamento compareci com falta de peso e fui recusado sob a alegação de excesso de tropa. Minha mãe ficou desolada, sem saber o que fazer comigo. Pedi-lhe mais uma vez para conhecer meu pai e ela disse-me que era para eu esquecê-lo, que ele era muito rico e ele não ia querer saber de mim.
Conclui o 2º. Grau tentando ainda agradá-la.
Porém, na semana antes do Ano Novo, conheci a coroa e passei com ela o Réveillon, vendo os fogos do Aterro do Flamengo.

Enquanto isso, minha irmã tinha virado popozuda com tudo o que isso representava na periferia.

Minha coroa era estribada, nortista, dente de ouro na frente, celular na cintura e perfume barato no pescoço. Ela era rude, tinha muito mais dinheiro do que qualquer pessoa com quem eu tivesse convivido até então. Dava um duro danado e me ensinou a correr atrás, que nem ela, para poder usufruir daquilo tudo. Ajudei-a no que pude, arranjei mais fregueses, conseguia no papo diminuir a propina pra fiscalização e com os PM’s que nos davam cobertura fiz amizade que nos custava muito pouco. A coroa sabia reconhecer o quanto lhe ajudara na responsabilidade e no coração.
À noite, quando se deitava comigo, era carinhosa. Gozava com muito esforço, mas, quando conseguia, se ajeitava toda a meu lado, seu corpo amolecia e me chamava de Zé, meu Zezinho, Zeca e enfiava a língua no meu ouvido.

Várias vezes tentei corrigi-la dizendo que meu nome era Wadson, mas com o tempo me acostumei. Sem dúvida ela não me lembrava as merendeiras com quem eu sonhara.

Depois de muito tempo, contei-lhe a história do meu pai, que era rico e que eu não conhecia. Ela não pareceu se surpreender. Tempos depois me falou da faculdade de direito, que eu deveria me inscrever e cursar, para somente então, já formado, me apresentar diante de meu pai.

Assim que pude, fui a São Gonçalo visitar a minha mãe, contar-lhe a novidade que a coroa ia me proporcionar. Ela ficou muito feliz por mim, mas, ainda assim, pareceu-me triste como nunca. Tentei arrancar-lhe o que era sem sucesso. Na saída, encontrei nossa vizinha que acabou me dizendo que minha irmã tinha saído de casa para morar com Nilson, colega meu de rua que agora era membro importante do “movimento”.

Deixei um dinheiro com a minha mãe, disse-lhe que era dinheiro honesto, que trabalhava no trailer com a coroa e que ia levá-la para bem longe dali assim que eu me formasse. Pedi-lhe somente para não dar parte do dinheiro para a igreja.

Voltei para o centro do Rio, no ônibus São Gonçalo - Passeio. Embarquei no ponto inicial e ia saltar no ponto final. De lá, chegaria caminhando até a casa da coroa, onde eu morava. Um único ônibus ligando dois mundos tão diferentes.

Amanhecia quando finalmente consegui dormir. Sonhei que estava com a cara enfiada nos peitos da cartomante gostosa, só que agora eu já sabia o que fazer depois.

Aureliano Mailer escreveu.

5 comentários:

Anônimo disse...

Mailer...

Vc é o máximo. Acompanho os textos com tanta ansiedade que deixei de caçar alguns terroristas que ameaçavam a liberdade no mundo.

Publique o número 5, please !!!!

abs

Jack Bauer

Aureliano M. disse...

Jack B.,
Onde quer que esteja, obrigado!
Sei do que vc é capaz com a mulherada ensandecida!
Dizem que seus belos olhos azuis e seu olhar penetrante, as enlouquece!
Arrume um tempo entre uma missão sanguinolenta e uma noite ensandecida em ótima companhia (eu sei que é assim que vc vive!) "para explicitar o seu eu", escrevendo seu texto incomum, nesse blog afirmativo e controverso.
Esse bando de leitoras querem lê-lo, apalpá-lo e imaginar como seria sua voz, declamando-o.
Esteja certo, alertei-as sobre um conhecido canalha que faz isso mas, pasme: recebemos declarações
delas reafirmando sua cega admiração!
Jack, eu falo e explicito que elas o querem!

Renata Born disse...

Adoro sua ficção máscula, Aureliano! Continue, por favor!

carol disse...

Olha!

maravilhosão!

mesmo!

Lady Shady disse...

Tão 'felliniano' isso de afundar-se em peitos...nem sei direito porquê...mas achei.
Volto à leitura dessa história ótima!
bjs