terça-feira, 16 de junho de 2009

Lixo à beira da estrada – Cap. 2

Sou mestiço social.

Minha mãe era da periferia, sempre foi pobre, morreu pobre. Era mãe solteira de minha irmã e de mim.
Meu pai morava em Ipanema, era de família rica, nasceu rico, morreu rico.

Minha mãe trabalhava na casa dos pais dele. Meu pai, quando engravidou minha mãe era casado, tinha 2 filhas pequenas. Minha mãe contava que meu pai não morava lá. Só ia à casa dos pais dele, nos fins de semana. Ainda assim, a engravidou. Naturalmente, não apoiou minha mãe quando a barriga dela cresceu demais. Deixou que fosse humilhada e expulsa de lá. E continuou casado, eu acho.

Com o tempo descobri que nessa miscigenação social ninguém nasce mulato. Ou nasce pobre ou nasce rico.

Eu fiquei em Itaúna, São Gonçalo.

Em outras palavras, eu fiquei no lado social da minha mãe.

Odeio ser chamado de mulato. Mulato é o caralho!

Ainda assim, tentei escapar.

Quando já era adolescente eu frequentava a Praia do Flamengo. Foi por lá que eu conheci uma coroa. Ela tinha um trailer com freguesia fiel, me deu boa vida e fui me ajeitando com ela. Com o tempo, me incentivou a fazer o vestibular, pagou uma faculdade de direito perto do Campo de Santana e em troca, lhe dei minha juventude. Nos divertíamos na rua quando casais de caretas nos olhavam com desaprovação. Eu a chamava de tia, tascava-lhe um beijão na boca e caíamos na gargalhada. E graças a ela, descobri meu destino.

Em uma tarde, de meio de semana, levou-me a um apê de sala e quarto de uma cartomante na Rua do Matoso, perto da Praça da Bandeira, a quem pagou para que fizesse meu mapa astral. Uma semana depois, voltei lá sozinho, depois de sair da faculdade. Nesse segundo encontro, descobri que ela não era cartomante, que meu ascendente era em Sagitário, que a mulher era bem mais gostosa que a minha coroa e que minha lua era em Aquário. Os odores de incenso e o perfume forte que ela tinha, eu nunca tinha sentido. Ela disse que minha vida ia mudar em breve e que eu era um sonhador. Passou a mão no meu rosto de um jeito estranho, disse-me que eu tinha cara de sonso. Ela tinha uma mão macia, grande e quente.

Disse-lhe que precisava voltar para o trailer, pois era sexta-feira e o fim de semana iam ser de trabalho. Perguntou-me onde ficava o trailer. Expliquei. Sorriu dizendo que não costumava freqüentar a praia do Flamengo, mas que talvez passasse por lá, só pra me ver. Fiquei em pé, junto à porta de saida, paguei-lhe o combinado e saí desgovernado.

Peguei o ônibus errado, cheguei tarde ao trailer, com a cabeça latejando e acreditando em cada palavra que ela tinha me falado. Minha vida ia mudar.

Passei a noite trabalhando e falando pouco, a coroa notou, quis saber o que era, disse-lhe que não era nada. Quando o movimento acabou recolhemos tudo, fechamos o trailer e fomos para casa dela, que ficava a uns 2 kms dali, perto dos Arcos. Como percebi a inquietação da coroa, para não dar bandeira, me aconcheguei a seu lado e transamos com sofreguidão. Passado um tempo, ela adormeceu e eu não.

Saí sem barulho do quarto e fui fumar no quintal. Passei a noite pensando em meu pai. E se ele me reconheceria como filho. Dali a 1 ano eu iria me formar e ele me arranjaria um emprego bom. Fumei mais um cigarro e fui me deitar.

O fim de semana seguiu normalmente, o gelo, a cerveja, os clientes antigos e novos, a preocupação com o calote, o “agrado” à fiscalização municipal, o cheiro de gordura, a água fria do mar, o esgoto a céu aberto, tudo tão perto de nós.

Em meio à muvuca de domingo, de repente senti a mão macia, grande e quente segurar meu braço. Virei-me, sabendo quem era. O sorriso dela estava ainda mais largo e generoso. Sorrindo, pediu-me uma cerveja com dois copos apontando para a mesa 3. Estava com uma amiga tão ou mais gostosa do que ela. Fui servi-las e percebi que falavam de mim. Disse-me para que eu passasse na casa dela na terça-feira seguinte, depois das 13:00. Jogaria Búzios para mim.

Perguntou-me quanto era. Pagou a cerveja na hora e me olhou de cima a baixo.
Gelei. Voltei para o trailer, conversei com a minha coroa qualquer coisa sem importância. Meu pau ficou duro, terrivelmente. Fui para trás do trailer, mexi no gelo, tentei me acalmar e assim que pude, voltei. Disfarçando, olhei em direção a mesa 3. Estava vazia com a cerveja ainda nos copos.

Fui até lá recolher os copos e a garrafa, buscando enxergá-las mesmo que a distância. Não as vi. Bebi a cerveja que restava no copo, enquanto as procurava. Nunca faço isso, mas aquela situação tinha me tirado do sério. Fui para trás do trailer. Enchi seu copo com o que restava na garrafa. Escolhi colocar minha boca sobre a marca de batom que ela havia deixado. Ainda alterado, fiz o mesmo com o copo da amiga.
Ela estava certa, minha vida ia mudar.

Aureliano Mailer escreveu.

4 comentários:

Lady Shady disse...

Excelente!
Se continuar assim, logo encomendo a vc um continho erótico pra postar no meu blog...
bjs

Letícia disse...

Esse capítulo tá F&@*?#!!!

Cinira Ira disse...

A historinha tava muito boa até descambar pra pornografia.
Desnecessário eu acho!

carol disse...

wow.