quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lixo À Beira Da Estrada - Cap 5

Decidi impressionar minha futura cliente.
Era um risco mas, se acertasse, facilitaria as coisas para mim.
A VÍTIMA É SEMPRE ATRAÍDA PELO OLHAR DA COBRA!, lembrei.
Muitos golpistas, com quem convivi, já tinham falado a respeito.

"Senhora, já percebi que está decidida a muitas coisas.”
“Me corrija se eu estiver errado, mas se houver provas de adultério contra seu marido, a senhora pretende o divórcio, não é isso?”
“Além do poder de seu marido, sua sogra é mais poderosa do que ele e a senhora ainda não sabe como atingi-la, estou certo?”

Ela estremeceu.

“Wadson, como pode ser assim tão frio e observador. Por acaso, o senhor sabe quem eu sou?”.
Observei que, pela primeira vez, ela tinha falado meu nome.
“Não, senhora.”, disse-lhe.
“Tudo o que acabo de lhe falar, foi possível entender do muito pouco que ouvi.”
“A senhora tem um problema muito sério, muito delicado, que envolve sentimentos muito íntimos e reservados, mas que também envolve dinheiro. E...”, fiz uma pausa, “... pela sua aparência e elegância, o dinheiro envolvido não é desprezível.”

Me senti dominando a situação mas, enquanto eu falava, ela havia se recomposto. Por excesso de confiança, eu tinha baixado a guarda e iria pagar por isso.

“Estou impressionada com o que o senhor acaba de me falar.”

Acusei o golpe, mas não me fiz de rogado.
“É que eu conheço um pouco da natureza humana.”
Prossegui, “essa é uma frase de Balzac, foi apenas uma citação, não me queira mal.”

“Claro que não”, disse-me.
“Wadson, eu percebi sua preocupação em aparentar mais do que é. O cinzeiro de cristal baccarat, a citação de Balzac, as unhas feitas e o curso de inglês, em nível tão elementar, formam um conjunto harmonioso para qualquer advogado canalha.”
“Aliás, citando Nelson Rodrigues, TODO CANALHA É MAGRO!”
“Coincidentemente percebi, também é o seu caso.”

Ela conseguira me jogar nas cordas.
Poderia acabar comigo, virando as costas e indo embora.
Se ficasse, seria por causa de seus óbvios interesses, mas não me respeitaria e dificilmente eu estaria advogando para ela quando, por ventura, pusesse a mão no dinheiro.

Busquei uma saída. Uma frase que invertesse aquela situação desfavorável. Se aquela contenda fosse num ringue, naquele momento, quaisquer três juízes que não estivessem comprados de antemão dariam vitória à loura, por unanimidade.

Pensei num gancho de direita que poderia derrubá-la, fazendo com que eu ganhasse a luta.
Ou num golpe certeiro no fígado, fazendo-a sentir dor e, a partir daí, temendo outros golpes mais duros, eu conseguiria levar a luta até o final.
Se isso acontecesse ela me respeitaria. Face ao estrago que já tinha me feito, eu a respeitaria também.
Optei pela segunda tática e contra ataquei, ainda nas cordas.
Intencionalmente tratei-lhe pela terceira pessoa.

“Eu sei que você está sendo humilhada!”, conseguindo que ela recuasse.
“Sua bolsa Louis Vuitton está com o couro soltando na parte inferior”, acertando-lhe o fígado.
“Seus óculos Gucci já saíram de linha há pelo menos 5 anos!”, levando-a para o meio do ringue.
“Se quiser, eu posso ajudá-la, mas você vai começar dizendo o seu nome!” , parando de fustigá-la.

Para a minha surpresa, ela foi além.
“Meu nome é Maria Holanda Swanson. Swanson é da família do meu marido.”
“Mas meu nome de registro e verdadeiro é Marialva Santos”, completou.

Soou o gongo, a luta terminara.
Empate!

Entendi que seria a melhor ocasião para oferecer-lhe um drink.
“Olha", disse-lhe, "no frigobar tenho refrigerante, água mineral, soda, gelo e vodca importada. Tenho tambem uísque escocês e “John” Daniels. Aceita alguma coisa aqui ou aceita um convite para um drink, num bar próximo daqui?”
“Acho que um bar próximo, seria muito bom.”
“Posso usar seu banheiro?”
“Claro, sem problema.”

Aproveitei para examiná-la enquanto se afastava. O salto muito alto tirou-lhe um dos adjetivos que lhe dera, alta.
Os peitos com silicone, os lábios grossos demais e o quadris largos indicavam que não era loura.
Nem fudendo!

Abri a gaveta de minha escrivaninha, peguei o espelho redondo: de um lado normal, do outro aumento, para espremer meus cravos.
Minha aparência, meu cartão de visita, sempre repito.
Ajeitei o cabelo rapidamente, joguei na boca duas “Valdas” e fui fechar a janela, enquanto a aguardava.

Já havia escurecido.
Descemos, escolhemos o bar e entramos.

Aureliano Mailer escreveu.

4 comentários:

Bia Prado disse...

Tá se achando Norman, né Aureliano?

Lelê disse...

Adoro essa espécie de refrão, sei lá: "Minha aparência, meu cartão de visita".

;)

Anônimo disse...

Aureliano, vc é Norman, Nelson e principalmente macho !!
Manda ver !!!!

Jack Bauer

Lady Shady disse...

Amei este capítulo!
hahaha!
Muito bom esse embate!
Adorei o texto!
bjs